Nossos antepassados viveram nas florestas e, certamente, sentiam medo da sua complexidade. As florestas representavam perigo aos seres humanos, como a todos os animais. Para fugir das florestas, as comunidades humanas foram se aglomerando, primeiro com trabalho agrícola, depois a indústria, até chegarmos ao mais moderno e complexo mundo urbano que hoje conhecemos. E as cidades são tão complexas quanto as floretas. Assim como as florestas causavam medo e perplexidade, hoje são as cidades que amedrontam constantemente. Ninguém estaria seguro numa floresta, como também não se pode dizer que alguém esteja plenamente seguro numa cidade. Podemos dizer que, ao fugir da floresta, o ser humano criou a cidade à imagem e semelhança da sua primeira habitação.
O medo de ser agredido levou o ser humano a criar técnicas de proteção. E sempre impulsionado pelo medo, chegou ao ponto de desenvolver uma altamente moderna e eficaz indústria de guerra. Com medo da fome, e tendo que migrar para locais afastados dos recursos naturais, a espécie humana se esforçou em implementar técnicas e estratégicas capazes de garantir a subsistência. Mas, o medo da morte virou violência e o medo da fome virou ganância. Violentos e gananciosos por causa do medo, os seres humanos agridem, não apenas as outras espécies, mas constantemente vivem ferindo e explorando uns aos outros. É assim que vemos a humanidade, com muitos sinais de amor e fraternidade, mas fortemente marcada pela ganância, violência, pelo ódio e o egoísmo. E, infelizmente, ainda somos uma civilização do medo e da incerteza, sentindo impotência diante dos problemas que nós mesmos criamos.
Pilato Pereira
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